André Rebouças

Retrato ilustrado de André Rebouças, engenheiro e abolicionista brasileiro do século XIX

Ilustração por Tassila Custodes

Introdução

André Pinto Rebouças nasceu em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, no dia 13 de janeiro de 1838, em plena Guerra da Sabinada. O contexto histórico da rebelião marcou a vida da família Rebouças, que se mudou para o Rio de Janeiro anos mais tarde, devido às repercussões da rebelião.

Biografia detalhada

Embora nascido na Bahia, André Rebouças cresceu no Rio, onde seu pai, Antônio Rebouças – advogado autodidata e figura notável na política nacional – exerceu uma influência determinante na sua formação. Maior responsável e entusiasta pela educação dos filhos, Antônio dedicou-se a criar dois dos mais importantes engenheiros do Império: André e seu irmão Antônio.

No Rio de Janeiro, os irmãos Rebouças formaram-se engenheiros militares pela Escola Militar – embrião da Escola Politécnica, criada em 1874. Uma vez formados, era esperado que o Governo financiasse suas idas à Europa, como era regra para os melhores alunos recém-formados. Diante da recusa, o pai custeou a viagem para garantir aos filhos a oportunidade de conhecer o que havia de mais moderno na engenharia da época: Minha Carolina, escreveu à mãe de André, venderei os meus livros, mas os meninos hão de terminar sua educação na Europa.

De volta ao Brasil, André Rebouças trabalhou como engenheiro em importantes obras do Império, como as Docas de Dom Pedro II, e atuou como engenheiro militar na Guerra do Paraguai. A experiência no front, aliás, lhe causou profunda repulsa às guerras e ao militarismo. Além de engenheiro, exerceu a docência por longos anos – professor apaixonado, ministrava aulas quase diárias inclusive aos irmãos.

A luta pela abolição da escravidão, no entanto, foi a grande causa de sua vida, sua verdadeira profissão de fé. Essa é também sua face mais memorável, sua marca mais pungente na história do Brasil. Rebouças participou da fundação de algumas das principais entidades empenhadas nessa luta, como a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, a Sociedade Abolicionista – criada junto com seus alunos da Escola Politécnica – e a Sociedade Central de Imigração. Joaquim Nabuco, inclusive, não hesitava em afirmar que o nome do grande amigo era o maior da luta pela abolição no Brasil.

Rebouças defendia mais do que o fim do cativeiro; suas propostas refletiam um profundo compromisso com a justiça social. Seu projeto mais conhecido, estruturado no conceito de democracia rural brasileira, propunha a democratização da terra, pois, nas suas próprias palavras, quem possui a terra possui o homem. Nesse sentido, pode ser considerado um dos precursores da ideia de Reforma Agrária no Brasil.

Amigo íntimo de Dom Pedro II, decidiu acompanhá-lo no exílio na Europa. Após a morte do Imperador, morou na África e, depois, em Funchal, na Ilha da Madeira, onde faleceu em 1898.

André Rebouças foi um dos brasileiros mais notáveis de sua época. Seu compromisso com o abolicionismo era absoluto, pois, conforme ele mesmo declarou em 2 de julho de 1867, o amor pela liberdade o guiava. Essa certeza, inclusive, foi seu consolo durante os anos de exílio. Em tempos tão adversos, em que já não sabia mesmo se devemos desejar a vida ou a morte, tinha a segurança de que, quanto a mim, desejo apresentar-me ao Juiz Supremo dizendo: 'Trabalhei, quanto pude, para extirpar do mundo o monopólio da terra e a escravização de homens'.

Referências

SOARES, Anita Maria Pequeno. "Sou, de corpo e alma, meio brasileiro e meio africano": a questão racial a partir da escrita de si do abolicionista André Rebouças. 2024. Tese (Doutorado em Sociologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2024.