Cândido da Fonseca Galvão

Retrato ilustrado de Cândido da Fonseca Galvão, também conhecido como Dom Obá II d'África, vestindo uniforme militar com condecorações, demonstrando sua dignidade e posição social no século XIX
Ilustração por Tassila Custodes

Cândido da Fonseca Galvão, também conhecido como Dom Obá II d'África, nasceu por volta de 1845 em Lençóis, Bahia. De origem iorubá, era filho de um africano alforriado.

Participação na Guerra do Paraguai

Dom Obá alistou-se voluntariamente na Guerra do Paraguai, motivado pela promessa de integração social e reconhecimento por parte do Imperador. Em 1865, liderou um grupo de trinta homens da cidade de Lençóis até Salvador para se alistarem na Terceira Companhia dos Zuavos, contribuindo de forma significativa para o recrutamento de voluntários. Sua atuação durante o conflito representou um marco em sua trajetória pessoal e coletiva.

Retorno da guerra e promoção militar

Retornando ferido da guerra, foi promovido em 1872 ao posto de alferes honorário – uma patente militar, geralmente equivalente a segundo-tenente, concedida por mérito ou reconhecimento. A experiência militar moldou profundamente sua identidade e influenciou seus posicionamentos políticos e sociais nos anos seguintes.

Contexto social do Brasil escravocrata

Como homem negro livre em um Brasil ainda profundamente escravocrata, sua trajetória ilustra as tensões, dilemas, limitações e possibilidades vividas por muitos afrodescendentes no século XIX.

Vida no Rio de Janeiro

Entre 1877 e 1890, Dom Obá viveu no Rio de Janeiro, na área conhecida como Pequena África, local onde residia grande parte da população de origem africana. Estabeleceu-se na freguesia de Santa Anna, região conhecida por abrigar muitos baianos. Dom Obá era uma figura de referência para a comunidade baiana e outros recém-chegados à capital. Mesmo sem praticar capoeira, era respeitado entre os capoeiras por sua firme posição abolicionista – causa popular entre esses grupos.

Atividade intelectual e escrita

Dom Obá tornou-se uma figura de referência para a comunidade negra da cidade. Como destaca Lilian Borba, em seu artigo Escrita e comportamento social: Dom Obá II nas páginas dos jornais cariocas do século XIX (2015), ele publicou diversos textos na seção "a pedidos" dos jornais da Corte. Por meio desses escritos, afirmava-se como cidadão e intelectual, utilizando a palavra impressa como ferramenta de expressão política e de construção identitária. Dessa forma, consolidou-se como um verdadeiro sujeito de escrita no espaço público.

Reivindicação da linhagem real africana

Ele também reivindicava o título de herdeiro real africano. Segundo ele, seu pai, Obá I, fora rei em África antes de perder o trono durante uma guerra, sendo posteriormente capturado e vendido como escravizado no Brasil. Já em liberdade, o pai teria transmitido ao filho a legitimidade de sua linhagem real. Após sua morte, Galvão publicou nos jornais um manifesto, proclamando-se rei, Dom Obá II, e declarando sua intenção de reconquistar seu trono em África.

Legado e morte

Sua vida, no entanto, também foi marcada por dificuldades de reinserção à vida civil após a guerra e por uma constante busca por reconhecimento. Como relata Eduardo Silva em Dom Obá II d'África, o Príncipe do Povo (1997), ele faleceu em 8 de julho de 1890, sozinho e abandonado, deixando um legado de luta e resistência.