Era filho de uma mulher negra, empregada doméstica com problemas psiquiátricos, que faleceu quando ele ainda era criança, e de um homem branco de uma tradicional família "quatrocentona" que nunca o reconheceu. Após a morte da mãe, Correia Leite foi criado por terceiros, vivendo em porões e cortiços no meio da colônia italiana paulistana, enfrentando fome, abandono e trabalho infantil para sobreviver.
Como afirmou em depoimento reproduzido por Ivair dos Santos na Revista da ABPN (2019):
"Os que estavam 'lá em cima' eram os nossos 'protetores', advogados, fazendeiros... Esses tratavam a gente ainda como descendentes de escravos ou filhos de escravos. Eu via que eles tratavam o negro com aquela mesma empáfia, com o mesmo ranço escravocrata" (Leite, 1992, p. 55 apud Santos, 2019, p. 356).
Correia Leite sobreviveu realizando trabalhos humildes, como entregador de marmitas, carregador de lenha e vendedor de água. Sua busca por alfabetização foi marcada por dificuldades, mas também por gestos de solidariedade. Recebeu apoio de uma professora para quem trabalhava, que lhe possibilitou estudar na escola que ela dirigia. Com o fechamento da instituição, continuou os estudos em um colégio maçom e, mais tarde, fez um curso de alfabetização no Mosteiro de São Bento, em São Paulo.
Foi nesse ambiente que conheceu Jayme de Aguiar, com quem aprendeu muito e deu início à sua trajetória como jornalista. Em 1924, aos 24 anos, Correia Leite e Jayme de Aguiar fundaram o jornal Clarim d'Alvorada, que se tornaria um dos mais importantes veículos da Imprensa Negra Brasileira. O jornal divulgava festas, bailes e casamentos, mas também publicava traduções de notícias dos Estados Unidos, artigos de Marcus Garvey (ativista político, editor, jornalista, empresário e comunicador jamaicano) e teses de congressos internacionais que questionavam a cultura e o ensino impostos pela hegemonia branca.
Nos anos 1930, o movimento negro no Brasil ganhou nova força com a criação da Frente Negra Brasileira, fundada em 1931. Correia Leite integrou-se à organização e tornou-se membro de seu Conselho, mas afastou-se em 1932 por discordâncias políticas e ideológicas – especialmente em relação ao apoio de alguns membros à restauração da monarquia. Defensor dos princípios republicanos, democráticos e socialistas, Correia Leite seguiu outro caminho.
Ainda em 1932, fundou o Clube Negro de Cultura Social em parceria com José de Assis Barbosa Leite, como uma tentativa de oferecer uma alternativa política e cultural ao movimento negro da época. Posteriormente, em 1945, colaborou com a Associação dos Negros Brasileiros (ANB) e, nos anos 1960, fundou e dirigiu a Revista Niger, inspirada pelo Movimento Negritude, conceito defendido pelo poeta senegalês Léopold Senghor.
Além de sua atuação como jornalista e militante, Correia Leite contribuiu como informante em pesquisas fundamentais, como Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo, dirigida por Roger Bastide e Florestan Fernandes, e A integração do negro na sociedade de classes, tese de Florestan Fernandes. Sua colaboração foi essencial para a compreensão das dinâmicas raciais e sociais no Brasil.
Em 1980, foi homenageado na Câmara Municipal de São Paulo, recebendo a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo. Nos últimos anos de vida, refletiu sobre sua trajetória e legado. Como declarou em relato autobiográfico feito entre 1983 e 1984, citado por Petrônio Domingues no Nexo Jornal (2024):
"Acreditei na luta e segui. Eu podia ter partido pra outras coisas, eu podia ter cuidado de outras coisas. Mas eu fiquei, desde 1924 até hoje, agasalhando o meu ideal" (Domingues, 2024, não paginado).
Essas palavras refletem não apenas a trajetória de um homem que enfrentou imensas dificuldades desde a infância, mas também seu compromisso incansável com a luta pela igualdade racial e pela dignidade da população negra no Brasil.