Desde jovem, Tia Ciata participou ativamente da cultura e religiosidade afro-brasileira, ingressando, aos 16 anos, na Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira. Filha de Oxum, foi iniciada na casa de Bambochê, da nação Ketu.
Aos 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, levando consigo uma filha. Casou-se com João Baptista da Silva, funcionário público, com quem teve mais 14 filhos. Como muitas baianas da época, sustentava-se vendendo quitutes nas ruas da cidade, especialmente na Rua Sete de Setembro, sempre vestida com suas tradicionais roupas de baiana.
"Tia Ciata se tornou uma figura central na comunidade negra da chamada Pequena África, região onde negros baianos, pessoas livres e ex-escravizados radicados no Rio mantinham vivas suas tradições culturais, religiosas e gastronômicas. Sua casa se transformou em um dos mais importantes pontos de encontro da cidade, reunindo músicos e intelectuais, e desempenhando um papel essencial no surgimento e consolidação do samba carioca."
"A importância das Tias Baianas – como Ciata, Carmem, Amélia, Perciliana e Bebiana – no contexto do surgimento desse que é considerado um dos gêneros musicais afro-brasileiros por excelência é indiscutível e amplamente reconhecida na literatura. Essas mulheres não apenas garantiam as condições materiais para a realização das rodas de samba – oferecendo espaço, alimento e proteção – como também exerciam papel de liderança social e religiosa em suas comunidades."
Eram matriarcas que preservavam e reinventavam tradições africanas, assegurando sua continuidade no contexto urbano.
Mãe de Santo respeitada, Tia Ciata foi confirmada como Ciata de Oxum no terreiro de João Alabá. Em sua casa – espaço de sociabilidade crucial para o nascimento do samba, adorava dançar o samba miudinho, um estilo caracterizado por passos curtos e movimentos sutis dos pés.
"Mais do que uma anfitriã, destacou-se como musicista e compositora. Seu talento musical nem sempre recebeu o devido reconhecimento. No entanto, ela compunha, tocava violão e cantava. O próprio Mário de Andrade, que teria frequentado sua casa, a mencionava como uma exímia compositora."
— Rodrigo Savelli Gomes (2013)
Tia Ciata residiu em diferentes endereços no Rio de Janeiro, incluindo a Pedra do Sal, o Beco João Inácio e a Rua da Alfândega. No fim da vida, viveu na Rua Visconde de Itaúna, na Cidade Nova, entre 1899 e 1924.
"Tia Ciata, a matriarca do samba, está eternizada não apenas por sua contribuição musical, mas também como símbolo de resistência em um cotidiano marcado pelo racismo. Usando a arte e a cultura como escudos, enfrentou adversidades e ajudou a transformar o mundo ao seu redor – razão pela qual seu nome permanece vivo nas expressões culturais que ajudou a moldar."
Atualmente, sua casa funciona como museu e organização cultural dedicada à preservação de sua memória e à celebração da importância da Pequena África para a história brasileira.